Monólogo Casulo, estrelado pelo ator
Ângelo Flávio, discute importantes questões do âmago LGBT
Por Sueide Kintê e Mia Lopes (publicação
do Blog Evolução HipHop)
No interior de uma das salas da Dimas
(diretoria de imagem da Bahia) as luzes coloridas no teto, uma crisálida
multicores na parede, e um manequim grafitado na porta de entrada ornamentavam
o espaço que remetia ao casulo de uma borboleta a desvendar segredos e
fervorosos pensamentos do mundo gay. Alguém gritava de dentro do recinto: “Me
mande tomar no cu! Qual o problema com o cu? O cu é um buraco.” Era o ator
Ângelo Flávio, o berro fazia parte de uma inusitada intervenção que integrou o
Workshop Transgenerismos, laboratório do seu próximo espetáculo- Casulo: uma
intervenção trans.
A lagarta, um bicho para alguns
singular, e para outros asqueroso, transforma-se numa linda borboleta depois
que abandona o invólucro de seu ninho. A partir desta metáfora da natureza o
ator e diretor Ângelo Flávio debateu com Gays, lésbicas, bissexuais e
transgêneros o eterno paradoxo entre a liberdade sexual e aceitação das
múltiplas manifestações das identidades de gênero. Soteropolitanos lotaram o
evento que aconteceu no último sábado, dia 23 de fevereiro com a participação
de Luiz Mott e outros convidados. Para Mott a atividade superou as
expectativas: “Estou muito feliz com a audiência porque em outras ocasiões,
inclusive em eventos de âmbito nacional, a gente não consegue reunir nem 15
pessoas”, disse o historiador, antropólogo e fundador do GGB (Grupo Gay da
Bahia).
Além de Mott, palestraram- Millena Passos,
presidente da Associação de Travestis de Salvador (ATRAS), Suely Aldir
Messeder, doutora em antropologia e professora da Universidade do Estado da
Bahia (UNEB), e, Ricardo Santana, historiador e membro-fundador do Coletivo
Kiu. Durante o debate, a contribuição que mais chamou á atenção foi da
estudante de publicidade Jeane Louise, que é transexual e relatou que seu maior
desafio é fazer as pessoas aceitarem seu nome civil. Ela que nasceu homem, cita
que até na justiça já sofreu discriminação “Quando entrei com a ação para
retificar meu nome o promotor de justiça que deveria me defender foi meu
primeiro obstáculo. Ele era preconceituoso, a juíza era preconceituosa, não deu
outra: meu pedido foi indeferido” afirmou.
Para Ângelo Flávio, o espetáculo Casulo
que estréia dia 23 de março as 22h na
Estação da Lapa, vai pôr o dedo numa ferida que precisa ser sanada – a
homofobia- “O teatro que eu faço perturba os sentidos repousados para se
espalhar como uma epidemia e expor a peste, para que, diante da peste, a gente
não tenha escolha a não ser se curar” indagou o diretor na fala de fechamento
do evento referindo-se a arte como instrumento de luta por respeito aos
direitos de gays, lésbicas, travestis, trasngêneros
e bissexuais .
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