Ereoatá Ponto de Cultura em Itinga
essa é uma publicação do site
Cinco pessoas não conseguem circular pelo bairro de Itinga, em Lauro de
Freitas, sem ouvir esta pergunta. “Vai ter teatro hoje?”, querem saber as
crianças, “vai ter teatro hoje?”, querem saber os pais. E os cinco integrantes
do grupo Ereoatá se alegram. Se tem público, tem espetáculo, sim senhor!
O mais legal é que há peças inventada pelos próprios meninos e meninas de
Itinga. Eles aprendem a fazer personagens em papel-machê, papelão, garrafas PET
e outros materiais alternativos, e depois de tudo pronto, criam coletivamente
uma história para aqueles bonecos.
“A minha boneca se chama Mérlia”, vem contar a menina Íris, que desde antes
de completar seis anos [idade mínima para o projeto] pedia para participar.
Mérlia foi a mãe dos outros personagens na peça que o grupo dela criou. “O meu
se chama Eddie. Ele tem um moicano azul”, mostra o colega Álvaro, de sete
anos.
Todos os sábados de novembro, a partir das 18h30, o palco do Ereoatá vai ser
ocupado pelo espetáculo “Blup – nem tudo que cai na rede é peixe”, que promete
ser “uma fantástica aventura no fundo do mar”.
Na trama, um caranguejo fica preso em um “coisa-ruim”, quer dizer, uma sacola
plástica, e um peixe chega para salvar o amigo. Os personagens são feitos de
materiais recicláveis, e o texto versa sobre a importância de não poluir as
praias, a cidade e o mar.
DESTAQUE: Quer assistir o trecho falado na reportagem acesse
De materiais reutilizados também são feitos o palco, as paredes e boa parte
da estrutura da sede do Ereoatá. As paredes são de banners de propaganda de um
cartão de crédito, o chão é de tábua de elevar produtos em supermercado, o piso
é de lona publicitária…
Além do palco, outros três ambientes acolhem as crianças, jovens e adultos
alunos do projeto: o espaço da oficina de bonecos e artesanato, e a salinha dos
livros e da leitura, onde também tem computador.
Em uma ante-sala, ficam os instrumentos musicais usados nos espetáculos, o
que aguça a curiosidade de quem sobe ou desce a ladeira da praça José Ramos,
perto da Escola Santa Júlia.
Havia uma época em que tudo isso ficava na garagem de um dos fundadores do
grupo, Rubenval Menezes, o que gerou até reportagem na TVE no ano de 2006 – um
registro orgulhosamente guardado nos arquivos do grupo.
“Na verdade, nossa história começou bem antes da garagem. Fomos alunos do
projeto Tupã de Arte-Educação, criado por Hirton Fernandes em Lauro de Freitas
nos anos 1990. Na época, chegamos a viajar para a Dinamarca, Peru, Bolívia, para
fazer intercâmbios. Depois, ele propôs que cada um formasse um novo grupo,
multiplicasse a ideia. Eliete e eu então fundamos o Ereoatá e depois fizemos
faculdade [licenciatura em artes cênicas pela UFBA], onde conhecemos os outros
parceiros”, conta Rubenval.
A palavra Ereoatá, em tupi-guarani, quer dizer “fazer bonito”. E contém nela
o “erê”, a “energia da criança” em iorubá – uma energia que, no fundo, é o que
move os professores a darem continuidade às atividades que não param.
O folheto diz que é de segunda a sábado, mas se alguém passar lá no domingo,
provavelmente vai encontrar alguém trabalhando. “Amanhã mesmo [domingo, 30/10] vamos terminar uma encomenda de artesanato,
porque é o jeito da gente garantir mais recursos para o projeto. Aqui, a gente
atende os alunos, a gente faz a limpeza, a gente busca recursos”, conta Eliete
Teles, “mas contamos também com o importante auxílio de monitores adolescentes”.
A biblioteca é outro atrativo que não para de receber adesões. “A leitura é
estimulada por um sistema de quadro de estrelinhas: quem ler mais livros ganha
um prêmio no fim do mês”, conta a professora Valdíria Souza.
Nas horas vagas, os professores vendem peças de teatro de bonecos para
escolas particulares e outras instituições. “Interessante é que nosso grupo leva
os mesmos espetáculos para as escolas privadas, e as crianças dessas escolas
estão com a mesma sede das crianças de Itinga!”, diz Rubenval.
A correria é grande para promover sustentabilidade aos projetos sociais de
arte-educação, e por isso nem sempre tem teatro aos sábados à noite. Como
alternativa, o grupo oferece contação de histórias ou exibição de filmes.
As crianças contribuem com o valor simbólico de R$ 1 [um real], mas a entrada
dos pais é gratuita, um modo de estimular a participação e a integração ao
grupo. Foi assim que Ruth Lopes, 35, mãe de Álvaro, se tornou aluna de
artesanato e aprendeu a transformar garrafas PET em peixes, corais e outros
personagens.
O Ereoatá trabalha com apoio de alguns programas de governo: Ponto de Cultura, Mais Cultura, Pronasci e Ponto de Leitura. Quem quiser entrar em contato com o grupo pode obter mais informações pelo email ereoata@hotmail.com ou 71 8813 4404 / 71 8884 8039.
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